O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os nomes das ruas da minha cidade: patrimônio imaterial a ser preservado

As ruas da minha cidade possuem nomes tradicionais, belos e significativos para a memória coletiva. Rua da Aurora, em frente à Rua do Sol. Rua das Ninfas, do Progresso, da Saudade, Rua Nova, Rua Velha, Beco da Facada. Por que trocar nomes tão singelos por nomes de "personalidades" falecidas, como dispõe a Lei nº 6454/77, que nem sempre são conhecidas da população em geral, ou seja, não têm ressonância social? Há alguns anos, apenas para comprovar uma sensação estranha, apliquei aos meus alunos da Faculdade um pequeno questionário. Uma das questões dizia: "Ruy Barbosa é": a) Ministro b) Jurista c) Escritor d) Avenida Como esperava, antecipando a tragédia, a maioria dos alunos marcou a alternativa "d", certamente porque a memória da Avenida Ruy Barbosa, de intenso tráfego e extensos engarrafamentos, é a mais presente. Acredito que, não cientificamente, podemos estender a conclusão para todas as ruas que hoje levam o nome de ilustres personalidades desconhecidas da população. Seria interessante que houvesse pelos menos uma informação sobre o motivo daquela pessoa nomear logradouros públicos. Os nomes das ruas são patrimônio imaterial da cidade e contribuem definitivamente para a apropriação afetiva do espaço quando possuem significado. É por isso que muitas vezes a população se recusa a aceitar o novo nome, utilizando os nomes antigos que são transmitidos pela memória coletiva. Para finalizar, declaro solenemente que jamais gostaria que o meu nome fosse utilizado para designar ruas, prédios públicos, monumentos ou outras formas de equipamentos urbanos, pois não quero ser lembrada pelo meu péssimo estado de conservação.

7 comentários:

  1. Defendo a letra "d" como melhor resposta, afinal Ruy Barbosa "é" uma avenida.
    Se a sua pergunta fosse Ruy Barbora "era?", ai sim, pensaria nas outras hipóteses.
    Alunos sofrem, sabias?!
    E ser lembrada como equipamento público em péssimo estado de conservação é melhor que lembrar do estado de conservação do corpo que lhe deu o nome... afinal só podemos dar àqueles nomes dos que jà morreram.

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  2. Lembrei-me daquele episodio da placa da rua Vinicius de Moraes no Rio que em que a familia pediu à prefeitura para acrescentar "compositor e poeta" ao lado de "diplomata".
    Não houve objeção, claro, pois a coletividade lembra que o poeta sempre preferiu ser lembrado como tal.

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  3. Doutora, observe:
    Ruy Barbosa virou nome de uma avenida porque era uma personalidade importante para o Brasil. O problema é que os alunos não faziam a menor idéia de quem foi Ruy Barbosa, e a única coisa que dele sabiam com certeza é que nomeava uma avenida.
    A relação entre essas pessoas e Ruy Barbosa é meramente formal, não possui um significado. Se essa avenida se chamasse alkdfjaçskjf seria a mesma coisa.
    O nome Ruy Barbosa não evocou nenhum conhecimento, não trouxe qualquer lembrança nem do personagem e nem da época em que ele viveu. E o pior é que isso é matéria escolar.
    É certo que para nomear logradouros públicos o personagem tem que ter certa relevância pública,nem que seja ser parente de algum governante.
    Quantos nomes de parentes próximos e distantes foram utilizados para nomear equipamentos públicos? É claro que isso é uma forma de marketing, visto que o sobrenome famoso vai ficar exposto e será frequentemente falado pela população, o que pode render alguns votos no próximo pleito eleitoral.
    O problema é ter a sua imagem associada a um lugar decadente e sem conservação, como ocorre com boa parte dos equipamentos públicos no Brasil.
    Imagine: seu nome ser utilizado para nomear um posto de saúde onde as pessoas enfrentam filas e um processo kafkiano para receber atendimento, que nem sempre é adequado. Péssimo para sua memória e biografia.
    E o pior de tudo, a covardia: o dono do nome não pode nem se defender porque já está morto.

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  4. Eu, que só penso no passado, vou arriscar uma previsão: no futuro, as ruas não terão mais nomes, e serão apenas coordenadas de GPS.

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  5. Algumas ruas da minha cidade nessa música bonitinha de Alceu Valença (https://www.youtube.com/watch?v=M7F5wPWCD3A)

    "Na Madalena revi teu nome
    Na Boa Vista quis te encontrar
    Rua do Sol, da Boa Hora
    Rua da Aurora, vou caminhar

    Rua das Ninfas, Matriz, Saudade
    Da Soledade de quem passou
    Rua Benfica, boa viagem
    Na Piedade tanta dor"

    Pelas ruas que andei, procurei
    Procurei, procurei te encontrar

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  6. A tendência de alteração dos nomes de logradouros públicos, excluindo as referências a personagens da época da ditadura militar (1961/1988) parece haver se consolidado nos últimos tempos. Não há, porém, reflexão sobre períodos ditatoriais anteriores, e nem sobre os personagens em si e seus méritos e deméritos.

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    1. https://br.noticias.yahoo.com/avenida-e-ponte-voltam-homenagear-170100861.html

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