O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Memento Mori: o direito à memória dos mortos e a imagem do cadáver

"Memento Mori" é uma frase latina que significa, numa tradução simples, "lembre-se de que vais morrer". A consciência da mortalidade, pretendida nesta frase, tem como objetivo combater a soberba, a arrogância, lembrando como é transitória a condição humana. Também é uma exortação para as pessoas aproveitem o melhor da vida, enquanto durar, sintetizada na expressão "carpe diem". Geralmente, essa condição de mortalidade é representada pela exposição de restos mortais em locais especialmente destinados. Na Europa, um exemplo admirável são as criptas de la Chiesa della S.S Concezione (Capuchinhos), cujas fotos podem ser vistas neste site: http://www.cappucciniviaveneto.it. Do pó viestes, e ao pó retornarás. Esta frase nada tem a ver com maus hábitos, mas é uma advertência da nossa mortalidade e uma exortação para sermos bons. A idéia de realizar a exposição de restos mortais, que são considerados delicados em razão das questões morais, sentimentais, filosóficas, envolve uma pergunta básica: qual é a finalidade dessa exposição? Não é só uma questão de gosto (mau ou bom), nem de arte ou outra questão qualquer, mas de manter a dignidade e a boa memória dos falecidos. Um exemplo interessante de prática memorial eram as fotos tiradas dos falecidos para serem guardadas como lembranças pelos familiares, no século XIX. Vale a pena conferir um vídeo sobre essas fotografias no link abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=sWukFwE9QCc Observe que nessas fotos a finalidade não é fazer uma exposição desrespeitosa do falecido, embora algumas delas pareçam bizarras as olhos contemporâneos. Às vezes a morte é tão abrupta que as pessoas precisavam criar um cenário de normalidade para registrar a pessoa como se estivera em vida, pois naquela época tirar fotos era muito caro. Ou apenas guardar a memória de um momento feliz, ainda que falso. Essa situação é muito diferente das imagens veiculadas como ilustração de reportagens sobre crimes, por exemplo, que me parecem ter a finalidade de causar trauma visual ou fazer o marketing da desgraça. Nessas situações posso vislumbrar uma violação ao direito à memória dos mortos, porque não foi mantida a dignidade da sua representação.

4 comentários:

  1. Eu vi as fotos...

    (...)

    Interessante ver q algumas pessoas, principalmente as crianças, são colocadas em situações normais do cotidiano. Parecem dormindo, ora no colo da mãe, ora num sofà ou cama, brincando com suas bonecas...

    Aquela em que deus é representado por uma pomba em cima do berço, com raios de luz (?) em direção ao bebê morto é uma interessante forma de criação de memoria pra uma familia catolica.

    Bom, achei interessante. Se quer saber mesmo (não fico muito a vontade pra dizer) achei bonito. Não tenho muita certeza disto, mas certamente não é feio.

    Pensando nos programas de tv que vc mencionou, bom, ai nesse caso, é certo que se trata de uma barbaridade.

    A miséria humana mostrada assim... Eu quero dizer, a miséria dos expectadores desses programas; sim, porque qdo se trata desse tipo de programa de tv eu penso nos miseraveis que assistem e gostam, pois aqueles outros, os que são mostrados, estes na maioria jà se foram e, se pudessem, provavelmente escolheriam não estarem ali.

    Mas como os que ficam nesse mundo são os miseraveis que assistem, a barbàrie continua... Sim, eu penso neles e não gosto nem um pouco.

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  2. Pensando bem, também acho algumas delas bonitas.

    Do ponto de vista da memória, e como diria Fernando Pessoa, é melhor lembrar muito do que pouco, então as fotografias do século XIX tinham um propósito memorial realmente e respeitam a dignidade dos falecidos, no geral.

    Pessoalmente, entendo a exposição de restos mortais por finalidades filosóficas (como acontece na Igreja della Concezione) ou científicas (como acontece em alguns museus, embora nem sempre os visitantes percebam esse propósito).

    Porém, fico realmente constrangida com o tratamento dado aqui aos cadáveres. Lembra da música? "Ta lá no corpo estendido no chão"...E ao redor sempre um monte de curiosos assistindo ao espetáculo, e às vezes até fazendo comentários. Se esse tratamento não é vilipêndio, não sei o que poderia ser pior.

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  3. Ainda penso assim, e estou cada vez mais sensível em relação ao tratamento dispensado aos cadáveres.Parece que no nosso tempo nada mais é sagrado e a reverência está se tornando fora de moda.

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  4. http://www.bbc.com/portuguese/geral-36461785?ocid=socialflow_facebook

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