O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sábado, 11 de junho de 2011

Time Maps

O livro “Time Maps” de Eviatar Zerubavel, que é a nossa dica de leitura da semana, foi um daqueles que ajudam a entender as coisas. Quando eu li esse livro parece que deu um estalo na minha cabeça, e foi a partir daí que comecei a ouvir vozes.

Brincadeira!

É muito, muito, muito interessante mesmo esse livro. E, como é do meu hábito, realizei o fichamento crítico dele para colocar na minha tese, mas infelizmente não consegui desenvolver as idéias nesse sentido por falta de prazo (acadêmico).

Como acho um desperdício que essa ficha fique calada no meu arquivo, resolvi escrever um post com o fichamento, assim posso divulgar a obra e talvez despertar o interesse de alguém que esteja estudando o tema.

O livro demonstra a construção de uma topografia sociomental do passado, ou seja analisa a maneira como o organizamos e registramos os fatos selecionados como marcos para a construção da memória coletiva.

O Autor, Zerubavel (arrasou!), mostra que existem normas para lembrar, divididas em duas categorias para exposição: padrões de formatação do tempo e estratégias para ligar o passado ao presente.

1)Os padrões de formatação do tempo tentam transformar eventos desconexos em narrativas coerentes, a partir de oito técnicas: a narrativa, narrativa evolucionista, declínio, zigzag, escadas e árvores, ciclos e rimas, montes e vales, legato e staccatto. Vejamos rapidamente cada uma delas:

- Narrativa é a técnica de fazer um discurso histórico coerente a partir de fatos que são escolhidos.

- Narrativa evolucionista: parecida com a anterior mas tenta demostrar que os fatos ou eventos evoluem para outros;

- Declínio, através do qual se enfatiza a deterioração. (Aqui abro parênteses: não parece a vocês que a estória de Roma é contada exatamente assim? Quando estudei o assunto na escola fiquei preocupada porque Roma nunca chegava ao fundo do poço, e não ia ter tempo até o fim do ano letivo).

- Zigzag: são escolhidos marcos de progresso e declínio, de elevação e queda. Ao mesmo tempo em que concebe a História como uma trajetória única, a técnica do Zigzag é um esforço para mostrar desvios nessas trajetória (ZERUBAVEL, p. 18).

O que me pareceu haver de comum nessas técnicas é a eleição de marcos mnemônicos e a concepção de uma visão unilinear do passado.

- Escadas (unilinenar) e árvores (multilinear): são técnicas de formatação do passado que implicam a idéia de evolução, do “primitivo” ou do “abaixo”, na construção de uma estória teleológica do porvir (ZERUBAVEL , p. 21)

- Ciclos e Rimas: técnicas de formatação do passado baseadas na recorrência que esquematiza a história a partir de analogias, fundindo pessoas e eventos.

Essa idéia pode ser sintetizada na frase atribuída a Mark Twain: "History doesn't repeat itself, but it does rhyme."

- Montanhas e Vales: é a técnica que destaca a intensidade da memorização. Montanhas são fatos mais memoráveis, vales são vazios da memória. Para saber se determinado tempo abrange maior ou menor número de fatos memoráveis, é preciso analisar o comemograma (conjunto de comemorações).



Por exemplo: a fotografia acima seria um exemplo do meu mapa mental do século 20. As formações geológicas representariam a Primeira e a Segundas Guerras Mundiais, num meio de um mar turbulento de acontecimentos não tão memoráveis.

Viu? Essa paisagem é mais do que um belo par de peitos.

Essa categoria institui a História como narrativa do susto .

- Legato e staccatto:a técnica que considera o fraseado histórico como contínuo ou descontínuo.

A segunda parte do raciocínio do autor neste livro mostra estratégias mnemônicas para ligar o passado ao presente construindo pontes: editar fatos é maneira de criar continuidade histórica, como um roteiro de cinema.Os critérios são:

- “mesmo lugar”: a continuidade mnemônica baseada na realidade tangível da constância do lugar (Zerubavel p. 41)

- memorabilia: construção da continuidade apesar do lugar porque o objeto porta a memória (p. 43)

- imitação e replicação;

- “mesmo tempo”: reviver através de identificações sazonais. Ou seja, as pessoas se comportam diferentemente, preparam-se, compram vestimentas e comidas diferentes (p 47). Ex: Denise no Santon.

- Forçar a continuidade histórica por continuidade discursiva, através da persistência dos elementos passados consistentes com a nossa identidade. Ex: Menelik I eMenelik II (Etiópia),que tinham 2800 anos de distância.

Aqui eu lembro uma lenda, ou estória, que se dizia sobre Saddam Hussein pretender ser o continuador das obras de Nabucodonosor.

- Ancestralidade e descendência.

Com as ferramentas que esse livro me deu, consigo analisar determinada memória de forma mais sistematizada. Vou escolher um evento da História do Brasil para treinar a aplicação desse sistema em outro post, sem data para ser escrito.

REFERÊNCIA:

ZERUBAVEL, Eviatar. Time Maps: collective memory and social shape of the past.Chicago:London, 2004.

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