O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









quarta-feira, 17 de junho de 2015

Lembrar Paulo Leminski

Já ouviu falar em amor à primeira leitura?  Foi isso que aconteceu entre Leminski e eu.  A primeira vez que li um poema dele foi de forma inusitada, estava pichado em uma parede e eu fiquei ali parada e emocionada.

Em outras cidades e outros tempos também vi outros poemas publicados em paredes alheias, ruas.   Há alguéns que querem publicar Leminiski em todo lugar, talvez para que leitores como eu se encontrem com a poesia nas esquinas.

Embora prefira ler os poemas dele assim, deixar o acaso mostrá-los de forma inesperada, acabei me tornando possessiva e exigi um livro de presente, toda poesia.  E essa é a minha rotina diária: um Leminiski ao acordar e outro antes de dormir, como se fosse um remédio para a alma.

Às vezes fico pensando como era o seu cotidiano. Imagino que não via o mundo do mesmo jeito que eu, porque tudo era pretexto para versejar.  Imagino as noites insones do poeta, naquela batalha entre os versos bons e maus que virou a sua vida.

E que vida...O poeta era um caldeirão efervescente de referências, uma identidade complexa de alma imigrante polonesa diluída em ser brasileiro, e tudo isso na forma de um vaso japonês.  A relação dele com a cultura japonesa é muito interessante, lutava judô e estudava o idioma, mas por que era Leminiski, acabou sendo chamado de "samurai malandro".

Depois descobri que já havia ouvido as suas letras em músicas famosas, que eu também adoro.

Além de me mostrar um jeito especial de ver a realidade, por causa de Leminiski comecei a cometer meus próprios versos que, embora não sejam lá grande coisa, são meus e são uma expressão da criatividade que eu consigo. E basta.

 

15 comentários:

  1. Leminski, sempre exato:

    "Razão de ser

    Escrevo. E pronto.
    Escrevo porque preciso
    preciso porque estou tonto.
    Ninguém tem nada com isso.
    Escrevo porque amanhece.
    E as estrelas lá no céu
    Lembram letras no papel,
    Quando o poema me anoitece.
    A aranha tece teias.
    O peixe beija e morde o que vê.
    Eu escrevo apenas.
    Tem que ter por quê?"

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  2. Leminski tirando o meu sono. Não consigo fichar alguns dos poemas, e isso está sendo demais para a minha obsessão suportar.

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  3. "Tudo o que eu faço
    alguém em mim que eu desprezo
    sempre acha o máximo.

    Mal rabisco,
    não dá mais para mudar nada.
    Já é um clássico". (Poesia:1970).

    kkkk

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  4. http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2015/10/14/hqs-eroticas-de-paulo-leminski-e-alice-ruiz-sao-reunidas-em-livro-pela-primeira-vez/

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  5. "Tudo me foi dado.
    Nada me foi tirado.
    O que um dia foi meu
    nunca vai ser passado". (Winterverno)

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  6. Nunca quis ser
    Freguês distinto
    Pedindo isso e aquilo
    Vinho tinto
    Obrigado
    Hasta la vista

    Queria entrar
    Com os dois pés
    No peito dos porteiros
    Dizendo pro espelho
    - cala a boca
    E pro relógio
    - abaixo os ponteiros (sem título).

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  7. "um dia desses quero ser
    um grande poeta inglês
    do século passado
    dizer
    ó céu ó mar ó clã ó destino
    lutar na Índia em 1866
    e sumir num naufrágio clandestino".

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  8. "eu queria tanto
    ser um poeta maldito
    a massa sofrendo
    enquanto eu profundo medito

    eu queria tanto
    ser um poeta social
    rosto queimado
    pelo hálito das multidões

    em vez
    olha eu aqui
    pondo sal
    nesta sopa rala
    que mal vai dar para dois"

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  9. Um Leminski ao acordar:

    "Esse estranho hábito,
    escrever obras primas,
    não me veio rápido.
    Custou-me rimas.
    Umas, paguei caro,
    liras, vidas, preços máximos.
    Umas, foi fácil.
    Outras, nem falo.
    Me lembro duma
    que desfiz a socos.
    Duas, em suma,
    Bati mais um pouco.
    Esse estranho abuso,
    adquiri, faz séculos.
    Aos outros, as músicas.
    Eu, senhor, sou todo ecos".

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  10. E um Leminski antes de dormir:
    "Tudo é vago e muito vário,
    meu destino não tem siso,
    o que eu quero não tem preço,
    ter um preço é necessário,
    e nada disso é preciso".

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  11. Eita, Leminski:

    Amar você é
    coisa de minutos…

    Amar você é coisa de minutos
    A morte é menos que teu beijo
    Tão bom ser teu que sou
    Eu a teus pés derramado
    Pouco resta do que fui
    De ti depende ser bom ou ruim
    Serei o que achares conveniente
    Serei para ti mais que um cão
    Uma sombra que te aquece
    Um deus que não esquece
    Um servo que não diz não
    Morto teu pai serei teu irmão
    Direi os versos que quiseres
    Esquecerei todas as mulheres
    Serei tanto e tudo e todos
    Vais ter nojo de eu ser isso
    E estarei a teu serviço
    Enquanto durar meu corpo
    Enquanto me correr nas veias
    O rio vermelho que se inflama
    Ao ver teu rosto feito tocha
    Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
    Sim, eu estarei aqui"

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  12. "não discuto
    com o destino
    o que pintar
    eu assino"

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  13. "Merda é veneno.
    No entanto, não há nada
    que seja mais bonito
    que uma bela cagada.
    Cagam ricos, cagam padres,
    cagam reis e cagam fadas.
    Não há merda que se compare
    à bosta da pessoa amada".

    hahaha, Lemininski...

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  14. "Palpite
    O graffiti é o limite". Citei esse poema de Leminski na epígrafe do artigo publicado na Revista Lusófona de Estudos Culturais sobre grafite em imóveis tombados: https://rlec.pt/article/view/2125/2675

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