O brasileiro não tem memória.

Neste blog desmascaramos esta mentira.









sexta-feira, 17 de julho de 2015

Pé de lótus

Existem algumas práticas culturais que não saem da minha cabeça, e já falei de algumas que considero bem interessantes, relativamente à modificação corporal:  a cintura de vespa (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2013/10/cintura-de-vespa.html), tatuagens (http://direitoamemoria.blogspot.com.br/2011/01/tatuagem-e-memoria.html), que refletem os valores de uma época.

Uma das práticas mais fascinantes para mim é o pé de lótus chinês, que tem esse nome por remeter à forma e ao tamanho da flor jin lian (lótus dourada de 8 cm).  A idéia de diminuir os pezinhos das mulheres até um tamanho inimaginável, para tratá-los como jóias envolvidas em preciosos sapatinhos, pode até ser esteticamente interessante.  Evidentemente, não se levava em consideração os gravíssimos problemas de saúde decorrentes dessa prática (cf. http://diariodebiologia.com/2014/06/pes-de-lotus-mulheres-chinesas-que-eram-obrigadas-a-ter-o-pe-com-no-maximo-10-centimetros/#.VaeYgflViko), incluindo mutilações, tecido necrosado, infecções e o terrível cheiro.

Para ver outras imagens de pés de lótus: http://www.museudeimagens.com.br/pes-de-lotus/.

Afirma-se que a prática surgiu em 960 a.C, sob a égide do Imperador Li Houzhou (Li Yu), que supostamente se apaixonou por uma concubina que dançava com os pés enfaixados, daí a associação entre pés de lótus e sexo. Outra explicação, com sabor de lenda, afirma que uma imperatriz envergonhada dos seus pés obrigava as damas também a esconder os delas com faixas, e logo a prática se tornou padrão de beleza (Bergstein, R. Do tornozelo para baixo - a história dos sapatos e como eles definem as mulheres).

As sociedades, em todas as culturas e épocas, desenvolvem padrões estéticos muito complexos, entremeados de questões econômicas, sociais, políticas, religiosas, e as mulheres encampam esses ideais e os perseguem com a disciplina de sabujos, com raríssimas e honrosas exceções.  Mutilações, depilações, dietas, torturas corporais grandes ou pequenas, as mulheres são guerreiras com um ideal de beleza.

Apesar de todas as dores, da evidente desnecessidade da prática, ela durou quase mil anos, e foi preciso uma revolução cultural e um governo ditatorial, que cortava as bandagens à força, para que deixasse de ser praticada.  Será que três gerações será o suficiente para aboli-la definitivamente?

Um comentário:

  1. https://direitoamemoria.blogspot.com/2015/07/dialogo-surreal-11-sobre-pes-de-lotus.html

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